Na edição de fevereiro de 2011 a Revista Galileu estampou na capa para o Brasil inteiro ver em todas as bancas de jornal o seguinte título: “A CURA DO ENVELHECIMENTO”. Assim mesmo, dessa forma, com letras em caixa alta. Quando eu avistei aquilo na bancada da minha casa (sou, ou era assinante) pensei “Isso só pode ser coisa da minha cabeça, eles não iriam colocar uma chamada assim, tão preconceituosa”, mas era verdade. Depois de um tempo analisando a capa eu pensei “Deve ser só a chamada, mas dentro de repente tem um conteúdo interessante e não preconceituoso, e quem sabe essa matéria na verdade não fala sobre a dificuldade de diferenciar as doenças do envelhecimento do envelhecimento normal”.
Com toda a minha coragem abri a revista, e comecei a ler ...
Que grande erro eu cometi. Demorei quase dois meses para ter sangue de barata para terminar de ler a revista. Sem contar as vezes que eu não agüentei e parei de ler e, quando a revista sumiu (provavelmente de vergonha) e eu demorei quase duas semanas para achar.
Dentro da revista percebi que eu realmente estava errada sobre ter um conteúdo interessante. Para se ter uma idéia, na primeira página eles começam “Os cientistas do século 21 vêm perseguindo o fim da maior causa de morte do mundo: a velhice”. ... Depois que eu li isso ficou difícil de ler o resto sem um olhar crítico. Aliás, ficou difícil de ler o resto.
Primeiro eu queria muito entender o que eles consideram envelhecimento. Quem estuda o envelhecimento sabe que existem vários aspectos, como: o biológico, o social, o psicológico e o cronológico. Qual desses aspectos eles estão levando em consideração? - Eles querem viver para sempre, então não deve ser o cronológico, pois, afinal não se pode ser jovem cronologicamente aos 97 anos. Em determinados momentos eles definem como uma doença, em outros como uma fase da vida como qualquer outra e, em outros como uma fase feliz de relaxamento e de sabedoria.
Fato é que no final o envelhecimento se torna um sinônimo de fragilidade. Eles precisam estudar um pouco mais antes de escrever para entender que existe uma síndrome chamada síndrome de fragilidade, que ocorre na terceira idade, mas que não é a terceira idade. A equipe que escreveu realmente precisava ter pesquisado mais conceitos sobre envelhecimento como senescência e senilidade, ageísmo, fragilidade, tanatologia e com certeza ler sobre o normal e o patológico.
Só na frase que eu citei, que se encontra no primeiro parágrafo da reportagem, eles vão de encontro com um dos princípios da Política Nacional do Idoso (PNI). Segundo a PNI a velhice não deve ser tratada como uma doença e sim uma etapa da vida. E obviamente o idoso não deve sofrer preconceito de nenhum tipo.
A reportagem cita vários estudos científicos (mesmo não tendo nenhuma referência bibliográfica no fim da reportagem). Muitos deles são muito interessantes e realistas, falando sobre envelhecimento do organismo, com o aspecto biológico. Como fazer para que as células não morram, ou que a qualidade de vida dos idosos melhore. Que é obviamente o que querem todos os que sabem que a população idosa está aumentando.
Acho que o problema é esse, a população idosa está aumentando, e se isso acontece é porque a mortalidade em idades mais jovens vem diminuindo. A questão é essa as crianças, os jovens e os adultos estão morrendo menos, mas os idosos continuam morrendo. Incrível isso!
Na verdade ao chegar ao meio da matéria, eu tive a falsa impressão de que eles estavam tentando mostrar diferentes aspectos do envelhecimento. Mas ao ver um retângulo falando sobre Aubrey Grey um cientista de 47 anos com cara de Matuzalém (segundo a própria revista) que odeia o envelhecimento, e acredita que essa seja uma doença esperando pela cura, desconfiei que algo estava errado. Quando comparei o quadro com menos de um parágrafo com as falas da presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, dizendo que envelhecer era muito mais do que um processo biológico percebi que realmente a revista estava sendo bastante tendenciosa para o lado do envelhecimento como doença.
O relato do de Grey demonstra um terrível medo da morte. Em minha opinião, quem tem medo da morte não está de bem com a vida (sem interpretações psicológicas, só uma opinião). Sempre falta alguma coisa e, na tentativa de ter mais tempo de achar essa coisa que falta busca-se a imortalidade. Estranhamente ele parece esquecer que crianças também têm câncer e jovens também têm problemas no coração.
Como sempre os sonhos de criar homens maquinizados que vivam para sempre e máquinas humanizadas, que tenham sentimentos. Ter o poder de Deus, para criar uma nova criatura e fazer do homem uma criatura que mesmo feita por Ele pode ser modificada e melhorada pelo homem. Até que ponto vale à pena fazer de si mesmo um robô para viver mais? E afinal o que conta é viver mais ou melhor?
Eu não quero viver para sempre nem morrer jovem. Eu quero poder crescer, amadurecer, construir uma vida para mim e para as minhas próximas gerações, para depois, um dia morrer com muito orgulho de tudo o que fiz.
Pelo que eu li o mais importante para a Galileu é viver mais, mais jovem e belo. De uma forma muito curiosa o conceito que eu captei da reportagem foi: “Live forever die Young”
Sou seu seguidor.
ResponderExcluirParabéns pela matéria.
A revista Galileu, só consegue ser pior do que a revista Época, cuja direção exorta desavergonhosamente, a prática do assassinato, ao qual, esta revista Época sempre deu o simplório nome de : aborto.
Um abração carioca.